24 de nov. de 2014

O QUE É RESSACA?

BEBI DEMAIS, AGORA ESTOU DE RESSACA, MAS...
                - O QUE É RESSACA?

imagem: crieseumeme.com
Quando comemos ou bebemos uma substância qualquer, ela passa basicamente por três estágios: digestão, absorção e metabolização pelo fígado. Ou seja, todo alimento que é absorvido pelo trato gastrointestinal obrigatoriamente passa pelo fígado antes de alcançar qualquer outro órgão. Isso vale para alimentos, álcool, remédios, drogas, etc. O fígado é uma espécie de centro de tratamento das substâncias ingeridas. Nada chega à circulação sanguínea central sem antes ter sido processado pelo fígado. O nome desse processo é “metabolização hepática”.

Dentre os vários papeis da metabolização hepática, um deles é inativar substâncias tóxicas que tenham sido ingeridas, como álcool (etanol), por exemplo.
Na verdade, o processo de metabolização hepática do álcool  é curioso, pois, como o fígado humano não produz uma enzima que neutralize diretamente o álcool, ele primeiro o transforma em acetaldeído, e só depois em ácido acético, que é um metabólito não ativo e não tóxico. Aqui surgem dois problemas, o primeiro é que o acetaldeído é uma substância mais tóxica que o próprio álcool; o segundo é que o acetaldeído só é inativado em ácido acético após uma segunda passagem pelo fígado.

Resumindo, consumimos álcool, mas antes do mesmo chegar à circulação sanguínea central, o fígado o transforma em acetaldeído, uma substância ainda mais tóxica. Só depois de rodar todo o organismo e retornar ao fígado é que finalmente o álcool ingerido (agora sob a forma de acetaldeído) consegue se inativado para a forma do inócuo ácido acético.

imagem: 3.bp.blogspot.com
Após bebermos álcool, o resultado final é o seguinte: 92% do etanol ingerido é metabolizado e inativado pelo fígado, 3% é eliminado na urina, 5% é eliminado pelos pulmões na respiração (daí o teste do bafômetro) e menos de 1% sai na pele através do suor.

Obs: O acetaldeído é um carcinogênico (substância que causa câncer) e pode levar à lesão do fígado se a exposição for frequente e prolongada. (...)
(...)Bom, até aqui já aprendemos que o álcool, que é uma substância tóxica, após ser ingerido é transformado em um outro elemento ainda mais tóxico antes de circular por todo o corpo. Mas o problema não termina aí. A absorção do álcool pelos intestinos é muito mais rápida do que a capacidade do fígado de metabolizá-lo. O fígado só consegue metabolizar o equivalente a 10 gramas de álcool por hora, o que é menos que uma 1 taça de vinho ou 300 ml de cerveja, que possuem cerca de 12 gramas de álcool. Portanto, se tomarmos o equivalente a 5 taças de vinho, o corpo vai demorar, em média, 6 horas para eliminar todo esse volume. Isso significa que após um consumo exagerado de álcool, por várias horas nosso organismo vai ter que lidar com duas substâncias altamente tóxicas circulando no sangue: álcool e acetaldeído.

Quando estamos de estômago cheio, a absorção de etanol fica mais lenta, dando mais tempo ao fígado para metabolizar o álcool que chega. Por isso, a intoxicação por etanol é mais intensa quando bebemos em jejum. Bebidas alcoólicas gasosas são absorvidas mais lentamente e alimentos ricos em proteínas ou em açúcar reduzem a absorção do álcool.

O álcool age em todo organismo, mas os seus efeitos mais visíveis são no cérebro, principalmente durante uma intoxicação aguda. Em pequenas quantidades, o álcool tem ação estimulante, levando à euforia, desinibição e maior interação social. Pequenas doses já afetam a coordenação motora e a capacidade de concentração. Conforme o nível de álcool se eleva, a capacidade de julgamento fica alterada e surgem os comentários e as ações impróprias. Doses maiores de álcool e acetaldeído na circulação intoxicam os neurônios, levando à inibição do funcionamento do sistema nervoso. Conforme a concentração sanguínea se eleva, o paciente vai passando pelas seguintes fases: letargia, sonolência, redução do nível de consciência, coma e, eventualmente, morte.

Portanto, estar bêbado significa estar com os neurônios intoxicados por álcool (e acetaldeído). Os sintomas da bebedeira duram até o fígado conseguir neutralizar todo o álcool e o acetaldeído que circulam no sangue, o que já vimos que pode levar horas.
imagem: choppkremer.com
A noite acabou e você se depara com luz do sol ardendo nos seus olhos. A boca está seca e com gosto amargo. Você tenta se levantar e nota ainda uma tontura residual e uma fraqueza nas pernas. Neste momento, você repara que uma terrível dor de cabeça lhe atormenta. Como se não bastasse, ainda há um mal estar terrível e uma náusea que só não provoca vômitos porque o seu estômago está completamente vazio. Você corre para o banheiro e nota que está com diarreia, mas as fezes têm um cheiro diferente do habitual. Parece cheiro de … álcool. Sua mente está um nevoeiro e os detalhes da festa da noite passada são apenas flashes. Isso lhe soa familiar?

imagem: outramedicina.com
Pois isso é nada mais do que os sintomas da ressaca, o resultado final de horas de exposição a substâncias tóxicas. Na verdade, a ressaca habitualmente surge quando o nível de álcool no sangue já está bem baixo, quase zero, após intenso trabalho de limpeza feito pelo fígado.

A ressaca parece ocorrer basicamente por três motivos:

1) Intoxicação pelo acetaldeído.
2) Queda da glicose sanguínea (hipoglicemia).
3) Desidratação.

1) O acetaldeído chega a ser até 30 vezes mais tóxico às células do que o etanol. No caso de um consumo exagerado de álcool pode haver presença deste metabólito tóxico na circulação ainda por várias horas após o indivíduo ter parado de beber. Grande parte do mal estar da ressaca é por consequência da exposição prolongada das células ao acetaldeído, o que provoca uma espécie de inflamação generalizada do organismo. Além disso, os neurônios ficam intoxicados, o que atrapalha o estabelecimento de um padrão adequado de sono. O sujeito fica sonolento, mas a qualidade do seu sono é ruim, mantendo-o cansado.

2) O processo de metabolização do etanol envolve vias enzimáticas do fígado que também participam da produção de glicose, principalmente em períodos de jejum. Como essa enzimas estão ocupadas metabolizando o etanol, temos uma queda no nível de glicose para o cérebro e outras regiões do organismo. Daí surgem os sintomas de fraqueza e mal-estar.


3) Um dos efeitos adversos do etanol no cérebro é inativar a produção de um hormônio chamado ADH (hormônio antidiurético). Os rins filtram em média 180 litros de sangue (água) por dia. Graças ao hormônio ADH, destes 180 litros filtrados, urinamos apenas 1 ou 2 por dia. O ADH é um dos principais mecanismos de controle da quantidade de água corporal. Quando ele é inibido, toda água que passa pelos rins acaba sendo eliminada na urina. Por isso, alguns minutos após o ingestão de álcool, começamos a urinar o tempo todo. Já reparou como é clara a urina após consumo de bebidas alcoólicas? Isso ocorre porque neste momento sua urina é basicamente água pura. Esse efeito diurético leva à desidratação, que causa os sintomas de boca seca, sede, dor de cabeça, irritação e câimbras.



O ADH só volta a ser produzido pelo sistema nervoso central quando os níveis de álcool tornam-se baixos, geralmente após horas de eliminação excessiva de água.


Fonte
mdsaude.com